A verdade desportiva está relacionada com o avanço da mentalidade, que é o nosso real problema.
Muito se tem falado relativamente à introdução de meios que ajudem os árbitros na tomada de algumas decisões relativamente a lances mais duvidosos que ocorrem durante os jogos de futebol, como arma na reposição da verdade desportiva, da qual, frequentemente dirigentes, treinadores, jogadores e adeptos se vão queixando semana sim, semana não, consoante a forma como o benefício é distribuído.
Obviamente, após o jogo da Taça de Portugal com o Benfica, o Sporting terá muitas razões de queixa, pois foi obviamente prejudicado em três lances capitais, um que deu golo para o Benfica e outros dois que poderiam ter dado golo ao Sporting, pois trataram-se de dois penáltis claros que poucas dúvidas deveriam levantar ao árbitro para a sua marcação. Obviamente dúvidas não terá tido, pois não os marcou.
Sou a favor de que se introduzam alguns meios para ajudar os árbitros na tomada de algumas decisões, tais como o chip para dar a indicação se a bola entrou ou não. Ainda há pouco houve um golo na liga alemã que não foi validado. A bola bateu na barra, bateu no chão dentro da baliza e o árbitro não marcou, nomeadamente pela não indicação do seu fiscal de linha. Mas pode-se pedir a um árbitro que consiga ver a 30 metros se uma bola que segue a cerca de 100 km/h e que bate violentamente na trave e de seguida no chão, passando a linha de golo apenas alguns centímetros, entrou ou não sem ter dúvidas? Obviamente que não.
Pode-se pedir igualmente a um árbitro que a essa mesma distância, em lances confusos e rápidos na área, onde inclusivamente poderão estar quase todos os intervenientes de jogo, consiga através de uma nesga de espaço também perceber se uma dada bola ultrapassou a linha de golo, quando recorrendo a inúmeras repetições pela televisão também nós ficamos com dúvidas? Também obviamente que não. Os árbitros são humanos, não máquinas, mas muitas vezes é isso que lhes é pedido, ou seja, que ajuízem como máquinas estes lances.
No lance do Rui Patrício, e que deu o 4-3 ao Benfica, ainda bem que a bola entrou, caso contrário esta equipa de juízes estaria ainda mais debaixo de fogo do que já está se tivesse validado um golo sem a bola entrar.
Nos lances de fora de jogo, também me parece que os árbitros devem ser ajudados. No lance do terceiro golo de Cardozo é visível que o avançado benfiquista está fora de jogo, mas faz o movimento contrário ao movimento da defesa, daí a dúvida que possa ter ajudado ao fiscal de linha na não marcação da irregularidade. Aliás, como no lance do golo de Montero contra esta mesma equipa em Alvalade para o campeonato. Teria apenas de ser encontrado um meio de rapidamente estes lances serem sancionados e transmitida a informação ao árbitro assistente, de forma a que fosse evitável paragens prolongadas de jogo.
Ainda assim, se fosse uma máquina a assinalar estes lances, tenho a certeza de que os jogadores continuariam a reclamar nos campos portugueses como continuamente o fazem em 99% dos lances.
Nos lances dos penáltis é que me parece mais complicado. Se pode haver um quinto árbitro que possa estar num compartimento a visionar o jogo e que com a ajuda de repetições online e várias câmaras possa dar uma indicação ao árbitro de campo no sancionamento das irregularidades, será fácil questionar-nos o que sucederia se por acaso este árbitro errasse também. Se perante um penalti evidente um árbitro auxiliar decidisse que o jogador não teria sofrido falta, ou que teria simulado a falta, não dando a tal indicação ao árbitro para marcar o castigo máximo? Será fácil perceber que a contestação seria ainda maior e que as dúvidas abundantes sobre corrupção na arbitragem seriam lançadas de forma ainda mais agressiva e evidente. Este será realmente um caso de difícil decisão.
Assim como será difícil decidir até que divisões se poderiam instalar estes apoios tecnológicos de auxílio aos árbitros de jogos de futebol, pois ao nível do amadorismo não existirão fundos suficientes para tal investimento, creio eu, o que levantaria também muitas dúvidas sobre a competência e honestidade de cada juiz dessas partidas perante más decisões.
No entanto, pior são os casos em que não sendo necessários os apoios de equipamentos tecnológicos, o árbitro nada faz, nada sanciona, fechando simplesmente os olhos. Ainda retomando o jogo Benfica-Sporting, pergunto como será possível que o treinador do Benfica passe o jogo todo a deambular pela linha lateral, desrespeitando a sua área de ação para ir falar com os seus jogadores quase junto à grande área, para ir falar com o fiscal de linha ou para ir dar indicações a um jogador que está junto à linha mas longe do banco do Benfica. Existindo um 4.º árbitro que pouco faz para corrigir esta situação, o assunto toma ainda contornos mais inacreditáveis. Não esqueçamos de que estamos a falar de um árbitro internacional, que faz questão de o assinalar nas suas entrevistas.
Infelizmente, tenho a certeza de que este facto não consta no seu relatório. Como não constará nada sobre o comportamento do Jorge Jesus no final da partida em que continuamente continua a dar sinais de má formação pessoal, em vez de primar por dar o exemplo. Também é pouco crível que o tal árbitro internacional não saiba que as entradas por trás dão direito a amarelo ou vermelho. O André Gomes e o André Almeida estar-lhe-ão muito gratos por esse desconhecimento.
Mais inacreditável ainda é o facto de este árbitro, tendo dado uma entrevista uma semana de jogo afirmando que é do Benfica, ter sido nomeado para arbitrar o jogo em questão. Era uma falta evitável que ninguém a tempo soube colmatar. É óbvio que os árbitros também são adeptos de futebol e que têm as suas preferências, mas não é durante a época desportiva que devem dar estas entrevistas. Deem as mesmas durante as férias, ou depois de se reformarem da arbitragem. Muito menos as deveriam dar antes de um jogo desta importância. É estar a pedi-las.
Como tal, em conclusão, o apoio tecnológico no futebol é um passo que deve ser dado em tempo útil, ainda que deva ser bem ponderado a forma como o mesmo deve ser introduzido no jogo para auxiliar os árbitros, de forma a que não possam existir dúvidas e não possam originar ainda mais más influências no jogo. Porém, é igualmente visível ao nível do campeonato português que têm de ser dados outros passos na verdade desportiva e que nada têm a haver com o avanço tecnológico. Está relacionado com o avanço da mentalidade, o qual é o nosso verdadeiro problema.
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