É num cenário de crise que o Boavista arrisca voltar ao hóquei em patins, depois de ter estado 40 anos fora da modalidade. Os registos desse tempo são escassos, mas sabe-se que os axadrezados, que chegaram a ser primodivisionários, abandonaram os rinques em 1971 e durante décadas, sem rinque próprio, adiaram o regresso por motivos financeiros. Agora, as dificuldades mantêm-se para o clube do Bessa, que vive num país intervencionado pelo FMI e que assiste à redução das verbas destinadas ao desporto, mas, desta vez, a nova equipa chegou... a custo zero.
A ideia foi lançada por um adepto, ex-hoquista da Académica de Espinho e do Gulpilhares, Egídio Oliveira, de 32 anos, que propôs, à semelhança do que se passa com o Sporting, uma secção autónoma, em que o Boavista apenas autoriza a utilização do emblema, disponibilizando camisolas e calções. O pedido foi aceite e logo um grupo de amigos ex-hoquistas se entusiasmaram com a ideia de voltar a calçar os patins. Alguns, entretanto, por razões profissionais, desistiram, empurrando a recruta para o site do Boavista e Facebook, mas foi com a divulgação nos jornais que "choveram telefonemas", como contou Egídio Oliveira, agora dirigente e, de novo, avançado. "Uns já tinham jogado noutros clubes. Começámos a treinar a 16 de Agosto debaixo da bancada do Bessa, num recinto em cimento que nos foi cedido e, em Setembro, o Alfena contactou-nos. O Sr. Morais, que em tempos jogou no Boavista, alugou-nos o pavilhão e é lá que treinamos três vezes por semana, à noite", explicou Egídio Oliveira, recordando, sorridente, o primeiro jogo da sua nova equipa. Foi o arranque da III Divisão, que valeu um empate a quatro golos frente ao Cucujães, no passado fim-de-semana: "Foi impróprio para cardíacos, porque estivemos a perder por 4-1 e empatámos a quatro segundos do fim. Estavam bastantes sócios e o presidente Álvaro Braga Júnior."
"Queremos subir à I Divisão em quatro anos"
"Queremos crescer e deixar de ser apenas um projecto. Pela frente temos sacrifício. Não podemos sonhar demasiado, mas queremos trabalhar para dentro de quatros anos subirmos à I Divisão", confidenciou Egídio Oliveira, responsável pelo regresso do Boavista aos rinques. "Numa primeira fase só pensamos em trabalhar e o nosso objectivo passa por devolver dimensão à marca Boavista".
Como adepto, lamentou "os tempos de má gestão do clube", mas mesmo considerando que "o futuro do desporto passa, talvez, por ser mais amador, como no passado, muito por culpa da crise", Egídio Oliveira não deixa de ser optimista e acredita que vai ver o "FC Porto, Benfica, Sporting e Boavista juntos na I Divisão".
A saber
Equipa usa apenas o símbolo do Boavista e integra uma secção autónoma, como acontece com o hóquei do Sporting (agora na II Divisão)
São 13 os jogadores do Boavista e já passaram por clubes como Académica de Espinho, Lavra, Paço de Rei, Infante Sagres, Óla Mouriz. O treinador, Óscar Alves, já orientou o Fluvial
Empregados de mesa, estudantes universitários e comerciais são as principais profissões dos hoquistas axadrezados
Os treinos, três vezes por semana, em Alfena, são em horário pós-laboral (22h30)